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08/12/10

Amor: Ser romântico faz muito bem para a alma e aquece o relacionamento - Leniza Castello Branco

A maioria das pessoas gosta de ser alvo de pequenas manifestações de carinho, como um convite para jantar ou para uma viagem, surpresas na forma de flores ou de um presente fora de hora. Mas ser a fonte de atitudes desse tipo também é gratificante. Elas ajudam no desenvolvimento psicológico da pessoa. E a relação amorosa, claro, só sai ganhando.

O Romantismo surgiu no século XIX. Em lugar da razão, privilegiava a emoção, a subjetividade, a alma, os sentimentos, a fantasia, a imaginação. Idealizava a mulher. Ela era musa, amada, desejada, mas inatingível, nunca tocada, sempre tratada como uma deusa. A canção Rosa, de Pixinguinha (1897-1973), escrita no começo do século XX, ainda traz essa característica: "Tu és divina e graciosa/ estátua majestosa do amor/ por Deus esculturada/ e formada com ardor/ da alma da mais linda flor/ de mais ativo olor, /que na vida é preferida/ pelo beija-flor."
Hoje, no século XXI, a mulher não é mais inatingível, é parceira, companheira de trabalho, amiga, mas também quer ser desejada, idealizada. Pensando nisso, perguntei a alguns homens e mulheres de idades e profissões diferentes se ainda se consideravam românticos. A resposta surpreendente foi que todos gostavam de romantismo e achavam que era importante no relacionamento. Para eles, ser romântico é fazer alguma surpresa para a pessoa amada, dar um presente diferente, que não precisa ser caro, apenas para mostrar que se pensou nele ou nela, preparar uma comida especial, sair da rotina, convidar para uma viagem.
Atos românticos não precisam ser heroicos, em geral são pequenas coisas. Se a pessoa for criativa, pode escrever um poema, uma música, dedicar um livro. Isso é valorizar a emoção, o subjetivo, o sentimento, ser carinhoso.
Algumas pessoas têm dificuldade em demonstrar afeto. Dizer "eu te amo", declarar o que sentem. Mas, quando se apaixonam, o romântico reprimido aparece, e, quanto mais racionais forem, mais se derreterão e ficarão românticas.
As mulheres cobram muito dos homens para que valorizem as pequenas delicadezas, as emoções. Eles muitas vezes concordam, mesmo quando acham - e dizem - que "é tudo baboseira". Não é. O romantismo colabora com o amor, reúne o subjetivo ao objetivo, transforma a pessoa por meio da emoção, ajuda no desenvolvimento psicológico, oferecendo àqueles que são mais machistas uma oportunidade de vivenciar a própria sensibilidade reprimida. É um modo de demonstrar o afeto, e por isso tem função importante na relação. Se alguém não sabe se expressar com palavras pode preparar um jantar especial para o outro, pôr flores na mesa, aromas, velas, criando um ambiente de emoção. Assim, demonstra carinho, preocupação, desejo de alimentar o amado com o melhor, de se dedicar, comprando, preparando, oferecendo alimento. É algo subjetivo, não só um prato de comida. Simboliza mais.
Escrever um poema ou compor uma música também são formas de declarar paixão. A poesia e a música falam ao coração, deixam o sentimento fluir.
O romantismo é necessário porque ajuda a pessoa a expressar os sentimentos que de outra forma talvez não fossem expressos. O amor, quando calado ou negado, se transforma em agressividade. A atitude romântica ajuda a vivenciar o afeto reprimido e a liberar emoções que se não fossem expressas poderiam afetar o próprio relacionamento.
Por isso, sejamos românticos. Para termos encontros mais saudáveis, para expressarmos os afetos sem medo de parecermos apaixonados, ou bobos, podendo nos entregar totalmente ao sentimento e torcendo para que ele "seja eterno enquanto dure".
* Leniza Castello Branco, psicóloga e analista junguiana na capital paulista, é membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA).

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