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16/04/12

Em tom de celebração - Por Déa Januzzi

Livrai-nos, Senhor, da morte diária dos nossos sonhos; enterrai, de vez, a falta de entusiasmo, o martírio de viver cada dia como se fosse um calvário.

Livrai-nos, Senhor, de todos os males e das pedras no caminho que nos fazem tropeçar na mediocridade e na mesmice das coisas. Enterrai para sempre, Senhor, a falta de compaixão. Livrai-nos, Senhor, das chagas da intolerância, da injustiça e da prepotência que se abrem diante dos nossos olhos, sem que encontremos o bálsamo para cicatrizá-las.

Livrai-nos, Senhor, dos entulhos do coração para deixá-lo mais leve e livre para amar indistintamente. Tirai as cinzas não só das quartas-feiras, mas de todos os dias de chumbo e de trevas que, porventura, surgirem em nosso caminho.

Aliviai, Senhor, o peso da cruz sobre os nossos ombros, para que em cada estação surja um Cirineu para nos ajudar a seguir em frente. Que as Marias Madalenas continuem a enxugar o suor do nosso rosto e expiar a culpa da humanidade. Dai a Madalena, Senhor, um lugar de destaque e de redenção. Curai as feridas de todas as Madalenas. Expurgai, Senhor, o preconceito, o ódio, o cansaço e a solidão.

A partir de hoje, Senhor, estendei os tapetes de glória, com as cores da ressurreição, desde a leveza dos tons claros até a densidade dos púrpuras e vermelhos. Estendei, Senhor, a serragem colorida pelas avenidas da nossa alma. Deixai-nos com essa sensação de ressurgir do nada, de reerguer sobre os escombros da insegurança.

Dai-nos, Senhor, o milagre do pão e do vinho, para que o prazer esteja sempre à nossa mesa, com a mesma fartura e o sentido de um ritual. Ressuscitai, Senhor, a esperança nossa de cada dia, a alegria de acordar e de dormir sem sobressaltos. Que os pesadelos não nos despertem do sono, que a consciência amanheça conosco e siga em frente sem as sombras da pesada noite.

Dai-nos, Senhor, a possibilidade de recomeçar, de dar a volta por cima, de ressurgir, de renascer em meio ao caos. Livrai-nos do sepulcro, arrancai os espinhos da dor. Bendizei, Senhor, as flores que acabam de nascer nos lugares mais secretos do nosso ser.

Regai, Senhor, o jardim das oportunidades para os jovens que vivem hoje como zumbis, sem projetos de vida. Acendei, Senhor, a tocha nos corações perdidos na escuridão, enferrujados de medo, aprisionados de dúvidas. Curai as nossas feridas antigas e as que ainda vão se abrir dentro do nosso peito.

Perfumai, Senhor, as nossas casas com o cheiro da comida das avós. Acendei um fogão de lenha em nossas lembranças mais profundas, onde só cabem os almoços de domingo, a família reunida e o afeto servido em forma de chocolate, para lambuzar bocas e mãos, para seduzir as crianças e embriagar os mais velhos.

Fazei o milagre da multiplicação, Senhor, para as mães que não têm o que dar aos filhos neste dia. E aos pais humilhados e ofendidos, dizei, Senhor, que há um dia depois do outro e que o amanhã chega mais depressa do que se imagina. Iluminai, Senhor, o caminho dos desamparados, dos deprimidos, dos que estão sofrendo de amor, dos desiludidos, dos que não creem em mais nada. Acendei, Senhor, a luz de melhores dias. Amém!
 

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