Com tanta coisa acontecendo
no mundo, deve ser moleza arranjar assunto fresquinho para escrever. Foi o que
me disseram outro dia, e me flagrei pensando: quem dera.
Recebemos uma overdose de
informação, mas isso não significa que os acontecimentos sejam surpreendentes a
ponto de fazer a festa dos colunistas. É leite tirado de pedra diariamente. Como
ser original quando tudo se repete e repete e repete?
O Brasil inteiro está
comentando a lista de convocados pelo Dunga, uns o criticando, outros o
absolvendo, e daqui a um mês uma nova Copa começará em que nossa seleção terá
boa chance de vencer, e alguma de perder. Já não passamos por isso antes,
igualzinho?
Questões envolvendo a
extradição de um criminoso, ataques sangrentos no Iraque, crise nas Bolsas de
Valores, barreiras comerciais afetando a relação entre países, alerta para chuva
forte, violência nas estradas. Mais do mesmo.
Atos insanos surgem aqui e
ali, nos escandalizando por alguns dias, fazendo com que discutamos sobre mentes
doentias e a necessidade que tantos têm de espetacularizar a própria história, e
então, passado o susto, viramos a página.
Crises econômicas,
conflitos religiosos, garotos matando colegas de aula, veteranos do esporte
tentando se manter na ativa, casamentos e separações de celebridades, campanhas
eleitorais, denúncias de corrupção, tendências da moda outono-inverno, cantores
adolescentes que viram ídolos instantâneos, últimos capítulos de novela. O que
ainda suspende a nossa respiração?
Tivemos recentemente a
eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, que foi um
acontecimento histórico. Depois esfriou. O que temos de quente, pra hoje, são as
preocupantes ameaças ambientais ao planeta, em especial o vazamento de óleo no
Golfo do México e um vulcão ativo que tem causado transtornos no Hemisfério
Norte, mas isso já não é notícia de ontem?
Cada vez que sento diante
do computador, nada me parece moleza. O que é que ainda falta dizer? O que ainda
nos deixa perplexos? Como ofertar um pouco de originalidade ao leitor? Que
pretensão. Desde o 11 de setembro de 2001 que o mundo não tem sido original. Não
que eu deseje que atentados dessa magnitude se repitam: já bastam os
homens-bomba, que viraram rotina.
É só um desabafo: hoje, os
absurdos se sucedem em escala industrial e os fatos novos são como mariposas,
nascem e morrem no mesmo dia.
Por essas e outras,
persevero no trivial, que, contrariando sua natureza, passou a ser o inusitado
da vida.
Fonte: Livro "Feliz por
nada".
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